Quantos dias tocou piano, entre as ruínas de Yarmuk? De quatro em 4 anos, de 2012 a 2015. A situação era desumano, estávamos cercados pelas tropas de Bashar el-Assad. Presos. sem comida e sem medicamentos, morreu. E tinha humor pra tocar o piano?
Fazia falafels com uma montanha de lentilhas pra aves que alguns familiares deixaram em sua fuga. Mas, 6 meses depois, as lentilhas, se encerraram. O e puxou seu piano pra rua? Foi um impulso. Se prontamente não podia alimentar as pessoas, com comida, faria com música. Como você se sente tendo fugido de lá e sendo hoje alguém famosa?
Culpado, sinto desgraça em razão de eu lhes prometi às moças de Yarmuk que eu não iria. Quem gravou tocando o piano naquele paisagem destruída e o disponibilizou no YouTube? Meu camarada Mahmoud Tamim. Não tinha água, nem sequer electricidade, nem comida, entretanto tínhamos web.
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Para obter energia, inventamos um sistema com pedais de bicicleta. Quando eu cheguei pela Alemanha, soube que um milhão de pessoas tinham visto. As grandes cadeias de tv do mundo e a imprensa tinham discutido de mim, de um homem que tocava piano perante as bombas rodeado de adolescentes e gurias cantando. Meu avô fugiu da Palestina em 1948 e chegou ao campo de refugiados de Yarmuk, pela periferia de Damasco, que com o tempo se converteu em um bairro animado da cidade.
Sim, morávamos na comunidade. Meu pai era violinista tocava em casamentos. Quando começou a ficar cego aos oito anos decidiu assimilar a tocar o violino. Tínhamos uma loja de instrumentos que ele mesmo fabricava. E chamou o seu carinho na música? Se interessou em que aprendesse a tocar piano.
Eu preferia jogar futebol, no entanto ele insistia em que era um refugiado e que a música era uma bacana maneira de expressar a minha identidade. Dos cinco aos dezoito anos, o detesté. Hoje eu imagino que sem a música meu destino teria sido muito contrário. Como começou a disputa pela Síria? Não era uma disputa, era uma revolução pacífica, pessoas como você e como eu, reclamando independência.
Em dezembro de 2012, os aviões de Bashar el Assad nos bombardearam: sessenta pessoas faleceram instantaneamente e mais de cem finalizaram mutiladas. Você chegou a metralha. O que vivi e vivem os que ainda estão lá é loucura.